O governo busca fortalecer suas reservas financeiras para compensar o aumento do limite de isenção na tabela do Imposto de Renda, aprovado nesta segunda-feira (28) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os recursos também desempenham um papel crucial na concretização da meta de eliminar o déficit primário até 2024, como determinado pelo novo arcabouço fiscal, aprovado recentemente pelo Congresso.
Diante da relutância dos parlamentares em relação à tributação das entidades offshore, o governo optou por transferir esse tópico para um projeto de lei e, em vez disso, tributar os fundos exclusivos, que representam instrumentos de investimento personalizados, com apenas um detentor de cotas, demandando um investimento inicial de pelo menos R$ 10 milhões e uma taxa de manutenção anual de R$ 150 mil. Atualmente, apenas cerca de 2,5 mil brasileiros investem nesses fundos, que acumulam um patrimônio total de R$ 756,8 bilhões, correspondendo a 12,3% da indústria de fundos do país.
Atualmente, os fundos exclusivos estão sujeitos ao Imposto de Renda, mas somente no momento do resgate e com uma tabela regressiva, onde o imposto é menor quanto maior o período de aplicação. O governo pretende nivelar os fundos exclusivos com os demais fundos de investimento, instituindo uma cobrança semestral do Imposto de Renda conhecida como "come-cotas". Além disso, aqueles que optarem por antecipar o pagamento do imposto estarão sujeitos a alíquotas mais baixas.
Em relação à tributação das entidades offshore, que inicialmente estava prevista em uma medida provisória mas foi transferida para um projeto de lei, o governo almeja instituir a tributação sobre os trusts, que são mecanismos pelos quais os investidores transferem seus ativos para terceiros administrarem. Atualmente, os recursos no exterior só são tributados quando são repatriados para o Brasil. O governo estima que cerca de R$ 1 trilhão (pouco mais de US$ 200 bilhões) estejam aplicados por indivíduos em nível global.
Aqui estão as propostas do governo:
Fundos Exclusivos:
Abordagem: medida provisória;
Situação Atual: tributação somente no momento do resgate do investimento;
Tributação Proposta: alíquota de Imposto de Renda de 15% a 22,5% sobre os rendimentos, a cada seis meses, através do sistema "come-cotas", a partir do próximo ano. Fundos com prazos mais longos terão alíquotas menores devido à tabela regressiva do Imposto de Renda;
Opção de Pagamento Antecipado: aqueles que optarem por iniciar o pagamento do "come-cotas" em 2023 pagarão 10% sobre os rendimentos acumulados, aumentando para alíquotas entre 15% e 22,5% nos anos subsequentes. Aqueles que não optarem pagarão somente em 2024, mas com alíquotas mais elevadas;
Previsão de Arrecadação: R$ 24 bilhões entre 2023 e 2026, distribuídos da seguinte maneira:
R$ 3,21 bilhões em 2023;
R$ 13,28 bilhões em 2024;
R$ 3,51 bilhões em 2025;
R$ 3,86 bilhões em 2026.
Offshore e Trusts:
Abordagem: projeto de lei;
Situação Atual: recursos investidos em empresas offshore, localizadas no exterior e que abrigam fundos de investimento, estão sujeitos apenas a uma alíquota de 15% sobre o ganho de capital se retornarem ao Brasil;
Tributação Proposta: cobrança anual sobre os rendimentos a partir de 2024, com alíquotas progressivas variando de 0% a 22,5%. A determinação se as alíquotas variarão com base no prazo ou no montante investido ainda não está clara;
Método de Cobrança: tributação dos trusts, uma relação jurídica em que o proprietário de um patrimônio transfere seus bens para serem administrados por terceiros;
Funcionamento dos Trusts: atualmente, a legislação brasileira não aborda essa modalidade de investimento, a qual é usada para reduzir a carga tributária através de elisão fiscal (exploração de brechas na legislação) e simplificar a distribuição de heranças em vida;
Opção de Atualização Antecipada: alíquota de 10% sobre os ganhos de capital para aqueles que ajustarem o valor de seus ativos e direitos no exterior para o valor de mercado em 31 de dezembro de 2023. Aqueles que não realizarem esse procedimento pagarão 15%;
Previsão de Arrecadação: R$ 24 bilhões entre 2023 e 2026, distribuídos da seguinte forma:
R$ 7,05 bilhões em 2024;
R$ 6,75 bilhões em 2025;
R$ 7,13 bilhões em 2026.
Publicado em 29/08/2023 - 10:15 Por Ricardo Camargo - CEO & Founder - Camargo & Associados